sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A semiótica e os estudos literários, por Lucia Santaella

São muitas as origens da moderna semiótica. Em função dessa multiplicidade, existem várias correntes semióticas. Portanto, quando se fala em semiótica, a primeira questão que se deve colocar é de qual semiótica estamos falando. Tendo isso em vista, seria muito parcial tocar na relação proposta pelo título deste artigo, sem a preocupação de um esboço, mesmo que breve, das principais linhas teóricas e metodológicas da semiótica. Esse preâmbulo ainda se justifica porque, dependendo da corrente semiótica de que estamos tratando, difere a própria definição da semiótica, assim como diferem os conceitos e o modo como eles são aplicados a outros campos do saber, das produções e criações humanas, e no caso que agora nos diz respeito, à literatura.

O boom dos estudos semióticos emergiu na Europa, especialmente na França, nos anos 1960 e suas fontes vinham do Curso de lingüística geral de Ferdinand de Saussure (1916) e da obra lingüística do dinamarquês Louis Hjelmslev. Portanto, a emergência da semiótica coincidiu com a enorme repercussão que o estruturalismo obteve naquela e na década seguinte. De fato, nessa época, os estudos semióticos vinham de fontes estruturalistas. Por isso mesmo, para muitos, a semiótica se limita à semiótica estruturalista. Isso é um equívoco.

O legado do estruturalismo exerceu forte influência sobre outras áreas do saber, tais como a antropologia, a sociologia, a história, a psicanálise e a filosofia, uma influência, aliás, que gerou muitos debates e controvérsias. Ora, a área que está mais próxima da lingüística porque também lida primordialmente com a palavra, é a literatura. Não é de se estranhar que o primeiro campo da semiótica a se expandir para fora da lingüística foi o dos estudos literários, especialmente na semiótica da narrativa, da poesia e do discurso em geral. Sob esse aspecto, bastante influente até hoje é a semântica narratológica e de A. J. Greimas, baseada em um modelo actancial, inserido em uma teoria discursiva complexa que apresenta uma trajetória entre o nível profundo e o nível superficial do discurso. Ao longo dos anos, essa teoria foi evoluindo para uma gramática modal e aspectual que estende as ações narrativas para uma semiótica das emoções e paixões dos actantes.

Ainda nas décadas de 1960-70, sob o nome de formalismo russo, estavam recebendo ampla divulgação por todo o mundo ocidental os estudos que haviam sido levados a cabo no começo do século na então União Soviética e que o stalinismo silenciara por algum tempo. Os ideais de fundação de uma ciência da literatura, que nortearam esses estudos, não apenas apresentavam coincidências com os ideais da lingüística, como também vinham de fundações lingüísticas. Em função disso, alguns pensam que a semiótica literária se restringe às fontes estruturalistas e formalistas, o que também é um equívoco. Na própria União Soviética havia nascido, contemporaneamente ao formalismo, o Círculo de Bakhtin cujos trabalhos, voltados para o campo da literatura e da cultura, apresentavam distinções claras em relação ao formalismo. Foi também na União Soviética que, a partir do rico legado deixado pelos formalistas e Bakhtin, desenvolveu-se a Escola de Tartu cujas pesquisas tinham por escopo os fenômenos da cultura em geral.

Ainda por volta dos anos 1970, o vasto domínio de pesquisa semiótica deixado por C. S. Peirce começou a ser resgatado do esquecimento graças aos sinais de alerta dados por Roman Jakobson sobre a importância fundamental do trabalho de Peirce para o estudo dos mais diversos processos de signos. Embora Jakobson tenha sido um lingüista de formação, são conhecidas as suas contribuições para os estudos da literatura. É importante notar que foram os estudiosos da literatura os primeiros a explorar a semiótica de Peirce para dela extrair contribuições aos estudos literários.

Portanto, desde o início, a semiótica literária não se limitou ao estruturalismo. De outro lado, desde os anos 1970, o campo de pesquisas semióticas foi se expandindo cada vez mais, ao mesmo tempo em que a semiótica foi gradativamente deixando de ser uma corrente teórica prioritária nos estudos da literatura.

Já nos anos de emergência da semiótica na Europa, os projetos semióticos de Roland Barthes e outros abraçavam sistemas de signos além dos lingüísticos e literários, tais como cinema, pintura, comunicação de massa, moda, culinária etc. Também nos Estados Unidos, desde os anos 1960, Thomas Sebeok vinha dando passos firmes para a abertura de novos horizontes da semiótica: das estruturas textuais à comunicação em geral, da comunicação verbal à comunicação não-verbal humana, e, para além da comunicação humana, a comunicação animal e desta para a interdisciplina da biossemiótica, hoje em plena expansão em várias partes do mundo. Além de todos esses domínios do orgânico, com o desenvolvimento do computador e cultura digital, as máquinas e computadores até a inteligência artificial e vida artificial passaram a se constituir em um novo desafio para a pesquisa semiótica.

Quanto aos estudos semióticos da literatura, passada a grande repercussão da década de 1970, a despeito da variedade de suas tendências, a semiótica da literatura foi se tornando, cada vez mais, apenas uma entre outras modernas teorias da literatura. Embora não goze da mesma prioridade que a literatura lhe deu nos anos 1970, a relevância da semiótica para os estudos literários é até hoje indiscutível, o que pode ser medido pelo enorme volume de bibliografia existente em que a literatura é trabalhada tanto teórica quanto criticamente à luz de conceitos semióticos.

Tal é o caso, por exemplo, do conceito de iconicidade que encontra na literatura um campo privilegiado de manifestação. O ícone é, por excelência, um signo motivado que rompe com o princípio da arbitrariedade da língua. Na teoria dos signos de C. S. Peirce, responsável por ter notabilizado o conceito de iconicidade, o ícone é um signo que significa seu objeto porque apresenta semelhanças qualitativas com ele. Ora, um texto é tanto mais literário quanto mais a linguagem, ao manipular o potencial icônico da língua, é capaz de materializar nas próprias palavras aquilo sobre o que fala, transfigurando a convencionalidade em sentidos motivados que saltam à flor da pele das palavras. É sob o poder das analogias, no âmago da iconicidade, que a linguagem literária, na sua quinta-essência que é a poesia, chega a roçar as nervuras e os vincos secretos das coisas e dos ritmos vitais.

Além da possibilidade de penetração analítica nos meandros mais sutis das palavras, a teoria geral dos signos permite desenvolver relações de várias ordens entre a semiótica e a literatura. Estas são relações internas, estabelecidas nos limites da própria literatura, e que recebem o nome de literatura comparada, da qual uma regionalidade seria a semiótica da tradução, e relações externas, estas desdobradas em dois níveis: relações da literatura com as demais artes: música, pintura, escultura etc. e relações da literatura com outros sistemas de signos: jornal, fotografia, cinema, publicidade, televisão, hipermídia. Tudo isso é viável porque a teoria geral dos signos nos habilita a perceber as inter-influências e intercâmbios de recursos que um sistema de signos pode estabelecer com outros e que são chamados de processos intersemióticos. Sob essa lente, torna-se perceptível por que e como uma linguagem pode fecundar a outra, como a literatura pode fecundar o cinema e vice-versa, como a música pode fecundar a poesia e vice-versa. Enfim, o saber semiótico funciona como um passaporte de trânsito entre as linguagens e como um detector das forças nascentes da linguagem que encontram suas fontes privilegiadas na literatura.

Sites de artistas:

Rosângela Rennó - http://www.rosangelarenno.com.br/

Cris Bierrenbach - http://crisbierrenbach.com/

Roxelle Costi - http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3195&cd_idioma=28555

Rogério Ghomes - http://rogerioghomes.com/indexhibit/

Fernanda Magalhães - http://www.fernandamagalhaes.com.br/

Nuno Ramos - http://www.nunoramos.com.br/

Alguns Artistas Híbridos


Rosangêla Rennó

"Convidei 43 fotógrafos profissionais para fotografar o Cristo Redentor usando câmeras mecânicas de diversos formatos, das câmeras de chapa 9x12 cm, do início do século 20, até as câmeras reflex, para filme 35mm, da década de 80, que colecionei ao longo dos últimos 15 anos. As câmeras, usadas pela última vez, foram lacradas. As fotos foram editadas por mim e seus autores. O projeto A última foto é constituído por 43 dípticos, compostos pelas câmeras e a última foto registrada por elas."


A Última Foto - The Last Photo


Luiz Garrido, Zeiss Super Ikonta
Fotografia em cor e câmera fotográfica Zeiss Ikon Super Ikonta 533/16 emolduradas (dí­ptico)
Dim: foto 41 x 62,8 x 14,3 cm / câmera 15,4 x 22,2 x 14,3 cm




Cris Bierrenbach

Esquecidos - Haiti


"Na cidade de Porto Principe instintivamente, após alguns minutos de completo estupor, peguei a câmera e comecei a fotografar. A situação de de absoluto caos por todos os lugares, parecia impossível de captar através do visor da câmera. A sensação de impotência, de não conseguir ajudar aquelas pessoas, aliada à lembrança de como, nos dias anteriores haviam demonstrado desprazer ao serem fotografadas, me colocaram em uma posição de grande desconforto e questionando minha função como fotógrafa."

Ela começa então a fotografar as peças de roupas achadas pelo caminho. Na instalação de Paraty as fotos das peças são expostas em um cemitério, atrás de uma igreja, nos nichos das gavetas. Com uma luz dramática, preferi ver a mostra à noite. A mais ousada das mostras, achei.
Gosto em geral dessas arqueologias e suportes inusitados.



Vik Muniz

Investiga, principalmente, temas relativos à memória, à percepção e à representação de imagens do mundo das artes e dos meios de comunicação. Faz uso de técnicas diversas e emprega nas obras, com freqüência, materiais inusitados como açúcar, chocolate líquido, doce de leite, catchup, gel para cabelo, lixo e poeira.







Área de estudo: Fotografia

Professor (a) Orientador (a): Rogério Ghomes

Tema/Título: Resgatando os significados da memória proposta na intersemiose de Rosângela Rennó

Objetivos da pesquisa:

Mostrar a desvalorização da memória de acordo com os trabalhos de Rosângela Rennó.

Resumo:

O artigo investiga a fotografia que nos traz uma ação e reação de lembranças com perspectivas jamais imaginadas. A cada significado que a fotografia mostra não é apenas uma imagem qualquer, é um momento único que nunca mais irá ocorrer, também conhecido como: instante decisivo, conceito do qual, Cartier Bresson, nomeou. A fotografia nos remete as lembranças boas ou ruins, ocasionais ou inusitadas, instantes de um tempo que já se foi. E será desse espaço de tempo que transcorre os trabalhos de Rennó. A discussão sobre cada memória que já não tem significado para muitos, mas para ela, abre portas para uma nova obra. “Na verdade, não operava, como pensava, nas artes visuais com um todo, e sim discutia códigos, padrões e conceitos da fotografia, a partir da própria história dela.” (RENNÓ in: MELENDI; MIRANDA, 2003, p. 8)

Justificativa

Com o meio de fácil acesso as imagens leva a rápida desvalorização e principalmente, o esquecimento, carregando consigo o desapego aos detalhes que se encontra em torno do indivíduo. Assim, com a foto- intalação gostaria que as pessoas vejam mais do simplesmente está ali, agregando um valor simbólico para cada memória. Que que o significado das coisas está muito mais próximo do que se pensa, basta apenas refletir e recordar.


Contribuições do projeto para a área de arte/tecnologia

Transmitir ao público uma maior sensibilidade. Condicionar os olhos para que a fotografia não passe despercebida, que o conceito seja valorizado e a leitura da obra possa transmitir da mais pura lembrança até a mais concreta razão de significados.



Articulação com o projeto do Prof. orientador (a):

A articulação que existe entre o estudo com o projeto do Professor Rogério Ghomes é o hibridismo, arte que unifica duas ou mais mídias distintas. Junto com a foto-instalação terá o vídeo. Em uma leitura da obra de diferentes áreas tentando transmitir o mesmo significado, a memória, e a valorização da sensibilidade de cada momento.

A ausência das fotografias no vídeo gera um certo desconforto e curiosidade sobre o que está sendo narrado, sendo assim, ao se atentar a instalação nota-se todas as fotografia ali, diante dos olhos, basta prestar um pouco de atenção as palavras, as imagens e ao redor.



Produto Visual Proposto

Vídeo e instalação.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Que coisas são essas que sentimos e não sabemos explicar e nos queixamos - ou não -
E que quando não sentimos, reclamamos.

Que meio é esse que a criança cresce, que música é essa que me consome?
Que futuro é esse que está por vir?
Que medo da morte é essa que não conseguimos nos desvincular?

Que perguntas nós questionamos e fatos que ocorrem que não estamos preparados?
Que fraqueza é essa que se dispõe em me orientar pro medo?
Que vinculo existe entre você e eu?

Para que existem perguntas que na realidade não existem respostas?
Porque esse tormento dentro de um furacão de ilusões?
Estranho como as palavras tem explicações, mas quando juntamos algumas, formando frases e colocando o ponto de interrogação, pode ser que, não haverá resposta.

Que energia é essa que faz muitos de nós sermos fortes, otimistas e destemidos, mesmo conhecendo os seres humanos?


Essa filosofia de vida que vivemos nem sempre tem razão, afinal todos nós temos defeitos, e como um deles: é não ter resposta para todas as perguntas.
Duvidar faz bem, para acreditarmos que não podemos tudo.
A cada coisa que descubro, descubro que tem muito mais a se descobrir, e não acaba por aí, nem por ali, vai bem mais além.
Além de mim e de você. Além de qualquer um.
Não nos esqueçamos disso!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Singular, do presente, não sou mais o que eu era!
Não antes de ver você, pelo menos.
Palavras e adjetivos, não se recuperam do estado qnd estou perto de você.
Mas num futuro não mutio longe do pretérito, eu gostaria de te ter comigo.
Sinais ao redor, circulando o compasso.
passo a passo.
Fujo e me calo.
Descalço, sobre pedras e ruinas de solidão.
De um modo imperativo, não faço mais isso.
Me conservo quieto.
Uma meneira simples de tudo isso é seguir sem olhar o passado, te ver no presente, e te conseguir no futuro.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

só um teste!

Mesmo que tudo mude, mesmo que ela se vá,
mesmo que a gente se separe, eu ainda vou me lembrar!!
Aquela epoca, onde tudo era só nosso, as nuvens e os abraços.
Quando alguém importunava, a gente só se olhava e parecia não existir mais ninguém por lá.
Pena q esse sonho tenha sido tão curto, porém, tão intenso que me fez feliz.
Sorte minha que realmente existiram pessoas como vocês pra me sustentarem e me alegrarem até hoje.
Me sinto completa, apesar da ausencia diária.
Era como se o mundo que queria já estava ao meu alcance e eu já fazia parte dele.
Sem esforço, com reforço.
E se me disserem pra conquistar o mundo a resposta vai ser simples, eu já conquistei o meu.